"Estou com o Zé quando diz que «esta não é uma questão de matéria, é de alma e coração». Por isso considero deplorável a ideia deste assunto ser referendado. Ninguém tem de circunscrever o livre arbítrio de ninguém... Mas, enfim, se estão assim as coisas feitas, vamos lá votar.
Por outro lado, o «nonsense» da matéria referendada é tal que se cai naquilo que poderia chamar-se um «paradoxo democrático». Porquê?
Ora porque o «não» impede o «sim», mas o «sim» não impede o «não». Isto é, se o «sim» ganhar isso não obriga qualquer adepta do «não» a abortar. Mas o inverso não sucede, pois se o «não» ganhar, a penalização incide sobre todas as mulheres... Sabendo nós bem como estas coisas vêm a funcionar quando o poder económico individual entra em cena, fácil é chegar à conclusão da hipocrisia por parte dos adeptos do «não».
Outra questão que me é pouco clara é o encarniçamento dessas gentes... Afinal, como já disse e é de conhecimento geral, a vitória do «sim» não irá obrigar nenhuma pia alma a abdicar das suas convicções. Então porquê tanta luta e tanta grita? Mero exercício de terapia ocupacional para os «benzaços» ou desnorte de extemporâneos espíritos reaccionários ou ele há gato escondido no assunto?
Quanto ao mais - e com o devido respeito pela diversidade de opiniões - vão lá à merda com as lágrimas de crocodilo pela «defesa da vida» de tantos desses «nãos» que aplaudiram (e aplaudem?...) o desvario criminoso do Bush no Iraque... Ai não tem nada a ver?... Se calhar, tem...
Depois, a vida já está no espermatozóide... Por este andar - e para amenizar - ainda assistiremos a algum adepto fervoroso do «não» a vestir luto, após alguma ejaculação nocturna decorrente de um sonho húmido.
E, cá para nós, na mesma lógica, era muito bem visto que cada cidadão que se masturbasse fosse bater com os costados na cadeia, culpado de umas centenas de milhares de homicídios neste país de tão baixa natalidade!... Tenham dó!"
OrCa
9 de fevereiro de 2007
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