Sentia o corpo todo dolorido. Costumava aguentar todas as doenças e maleitas de pé. Nunca tinha tempo para estar deitada a dormir quanto mais a ficar doente. Vivia sozinha e habituara-se a não precisar de ninguém. Mas, desta vez, tinha mesmo que se deitar. O termómetro marcava 40,5º e chegara a um nível que ela já não conseguia aguentar.
- Maldita gripe, resmungou para si mesma. Para o ano, tomo a vacina.
Não se lembra bem como nem quando, entrou em delírio. Tinha tomado uns medicamentos quaisquer que a médica tinha recomendado. A febre ainda não baixara e ela não conseguia mexer-se nem sequer raciocinar claramente. Tinha apenas em cima do corpo o lençol e mesmo assim sentia-se deitada em cima dum lago.
- Tenho que mudar de roupa ou meter-me na banheira com água morna para baixar a febre, pensou já em delírio.
Não conseguia levantar-se e adormeceu dum sono povoado de sensações estranhas. Havia uma mão que lhe tirou os cabelos colados ao rosto. Passava-lhe algo de húmido na testa e no pescoço. Hummm que sensação refrescante. A mão, talvez duas, não se lembrava bem, acariciavam-lhe o corpo. Pareciam orvalho acabadinho de cair de madrugada. Começou a desejar que aquelas mãos não parassem, que a envolvessem toda, que as mãos tivessem corpo, boca e língua, que pertencessem a um homem que a desejasse de igual forma. Só queria que não parassem. Tornar-se-ia flor para ele: o clítoris em orquídea só para ele.
As mãos pareciam ouvir os seus pensamentos. Das mãos nasceram uma boca que lhe murmurava palavras de amor, uma língua que a deixava doida e um corpo que era pele a roçar a pele dela. Afinal já não amaldiçoava a gripe. Há muito que tinha esquecido estas sensações e agora recordava o quanto eram deliciosas.
- Hummm mãos, boca, língua, pele. Vem até mim, disse ela em súplica.
E foi ouvida: sensações, prazer, deleite, êxtase...
Acordou no dia seguinte, já sem febre e com o corpo relaxado e cheiroso, apesar da febre.
- Tenho que parar de fantasiar - pensou ela.
E virou-se para a mesinha de cabeceira para beber um pouco de água. Ficou atónita. Havia uma caixa de dodots que nunca tinha visto antes. Como tinham lá ido parar?...
Anukis
30 de setembro de 2005
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