4 de setembro de 2005

O Fetiche - por Charlie

Era uma mulher imensa.
As suas mamas eram tão descomunais que conseguiam ultrapassar o perfil da barriga, ficando bem uns dez centímetros, assim de sobressalientes que eram.
Mas não se julgue que só nas mamas ela era algo de extraordinário. Não! Todo aquele aparato não era mais que um expoente do seu físico, verdadeiro prodígio de gorduras acumuladas anos a fio.
Nem sempre fora assim. Na verdade nunca fora magra, mas desde que conhecera aquele que haveria de ser o seu marido que as coisas pioraram de dia para dia.
Ainda na fase do namoro, ele encharcava-a de doces e bombons. Mas depois de casados é que as coisas descambaram para o perfeito exagero, com o dedicado parceiro de núpcias a conseguir a proeza de engordá-la vinte e cinco quilos num mês. Perante as conversas, atenções e reparos que a família dela lhe puseram, ele decidiu cortar radicalmente com eles.
- Basta! - Terá ele dito. - A mulher casou comigo e eu não casei com a família!
E postas as coisas nesta perspectiva, levou-a com ele, perfeitamente perdida em sentimentos contraditórios.
Por um lado sentia-se mal com o avolumar sem cessar do seu corpo. Por outro, ele mostrava-lhe tanto amor e os seus gestos eram tão carinhosos...
Sentia que lhe devia tudo na vida. Sentia que só ele poderia ser o único homem da sua existência. Devia-lhe toda a gratidão que alguém pode ter.
Quando faziam amor, ele deliciava a perder-se nos imensos peitos dela enquanto todo aquele mar de gordura o envolvia. Todo o seu corpo franzino mergulhava no sexo infinito daquela monstruosidade!
Ela sentia como ele gostava dela e como se sentia feliz no que a qualquer homem seria motivo de repulsa. Não lhe era possível alterar as coisas. Entrara na rotina.
E assim continuou a sua vida, cada vez mais isolada em progressão de espiral negativa, com cada vez menos amigos e cada vez mais atenções do Ismael, era assim que o seu marido se chamava.
O casamento durou sete anos.
Tudo se degradara no dia em que ela, a Ismara, se sentira mal e chamara os serviços de emergência médica.
Perante o que os paramédicos de serviço viram, o resultado só poderia ter sido este. Foi com um imenso espanto que se estatelaram virtualmente contra uma criatura imensa, sem roupas que lhe servissem e que utilizava apenas uns lençóis para se cobrir.
Após duras tentativas, sempre repelidas pelo Ismael, conseguiram ordem judicial. Foi levada sob escolta policial e internada.
A pouco e pouco ela foi recuperando a saúde. Colocaram-lhe uma banda gástrica. Foi-lhe dado apoio psicológico e, quando saiu, estava irreconhecível.
Ismael é que ficou destroçado. Ficara sem a sua mulher.
Separaram-se. Sem uma palavra, sem um olhar para trás.
Aquela mulher imensa. A que lhe preenchera todas as fetiches e fantasias. Agora ela, a Ismara, era apenas uma mulher vulgar. Igual às outras que enchiam essas cidades. Umas lambisgóias sem carnes onde um homem se pudesse deliciar. A relação quente que antes existira esfriara completamente. Também ela era outra. Com a sua auto-estima recuperada, via agora como tinha estado casada até essa altura com um monstro que a transformara à sua medida.
Reparou como outros homens olhavam para ela. Com admiração e olhares significativos.
Agora, saía com homens que a enchiam de amor e virilidade, de afecto e sexo, e pensava arrepiada como pudera chegar ao ponto onde chegara.
Lá longe na cidade, um homem andava pelas ruas. Só e acabrunhado, perseguindo sombras e maldizendo o dia em que se deixara vencer pelos malucos das dietas que lhe tinham roubado a mulher.
Um dia, porém, deu uma entrada no seu diário:
- Querido diário - escreveu ele - hoje encontrei finalmente a mulher da minha vida. É ainda jovem e tem 150 quilos. Estive a falar com ela e combinámos encontrar-nos. Convidei-a para
jantar e ela aceitou comovida. Sou o homem mais feliz do mundo. Comprei duas caixas de bombons...

Charlie

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