Juan era um homem com carisma. Apesar de não ter uma beleza chamativa de cair para o lado, tinha bastante charme. Era inteligente, tinha sentido de humor e podia sustentar uma conversa sobre qualquer tema. Tinha uma voz grave quase radiofónica que embalava quando se tornava íntima. Estava habituado a ter tudo o que queria, principalmente com as mulheres. Fazia questão em seduzir o máximo possível, não por uma questão numérica, mas pelo constante desafio. Vivia mal com hábitos e rotinas. Gostava de viver em locais diferentes, de conhecer sempre pessoas novas. Se acreditasse em reencarnação, teria sido nómada numa vida anterior.
Cátia era uma mulher doce de quem toda a gente gostava. Não era vistosa, nem sequer era uma deusa sexual. Tinha uma sensualidade quase inocente. Tinha um corpo bonito curvilíneo que escondia por baixo de roupas sem formas. Vivia ainda num mundo infantil, apreciava os momentos e o afecto que as pessoas lhe queriam dar. Sorria bastante e divertia-se com quase tudo. Exigia o melhor de si mesmo que oferecia aos outros como presente, mas pretendia nada em troca. Se acreditasse em reencarnação, teria sido a fada Sininho.
Juan foi-se aproximando de Cátia aos bocadinhos. Todos os dias metia conversa. Ela respondia sempre educadamente e com simpatia, mas não mais que aos outros. Na verdade, não entendia o que é que o sedutor nato via nela. Ele podia ter mulheres bem mais bonitas e sofisticadas, bem mais elegantes e badaladas. Que tinha ela de especial?
Juan estava cansado de sair com capas de revistas. Estava cansado de mentiras, de lhes dizer o quanto elas eram especiais, quando na verdade eram todas futilmente parecidas. Estava farto de falar sobre modas, festas, locais e pessoas vips. O que o atraía na Cátia, era aquele sabor da infância que sorvia sempre que falava com ela. Sentia-se de novo menino. Apetecia-lhe molhar-se todo a saltar por cima das poças de água, de lambuzar-se todo a comer um gelado enorme e de falar e rir horas a fio sobre tudo e sobre nada sem ter que estar sempre a manter a pose de sedutor. E assim foram-se passando os dias, numa aproximação crescente.
Um dia, finalmente, Cátia cedeu ao desejo crescente que Juan despertava nela. Desde que ele lhe dissera que dormia completamente nu, que não parara de fantasiar. Tinha-se esquecido que era corpo e ele fazia-a sentir-se mulher. Encontraram-se num quarto de hotel. Nervosismo de ambas as partes, flagrante na Cátia e invisível em Juan. A química entre eles era quase perfeita. Não fora o quase teriam tido talvez das noites de sexo mais escaldantes das suas vidas. Mas o quase estava lá. Um quase recheado de reservas da Cátia, porque uma mulher até pode ceder ao desejo mas não quer dizer que se entregue completamente a um homem. Um quase de sedutor latente no Juan, porque o homem esqueceu-se de ser menino e voltou a colocar a máscara de sempre.
Separaram-se já passava muito a hora do almoço. Tinham tomado juntos o pequeno almoço frugal do hotel, entre olhares fugidios e banalidades. Foram cada um para seu lado. Na boca, um sabor amargo, dos beijos que sabiam que nunca mais voltariam a trocar...
Anukis
21 de outubro de 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário