30 de outubro de 2005

A lição final - por Charlie

Parte IV

Num sorrir, misto de enigma e lascívia, continuou a passear o objecto cilíndrico pelo corpo, flutuando entre as axilas e umbigo, passando debaixo dos peitos, subindo pelo meio deles enquanto projectava o outro braço e o corpo para cima, em bicos dos pés, atirando a cabeça para trás e deixando os cabelos ainda húmidos fundir-se num corpo em retorta de magia.
Pelo ar, cheiros dos corpos ainda quentes do banho, espalhavam uma suave auréola de ilusão que me transportava nos braços em transes hipnóticos, fluidos e contínuos entre os claros escuros daquele espaço.
Ela continuou nos seus voos oníricos e aproximou-se um pouco mais.
Pegou numa toalha quase vermelha e com ela entrosou-se numa coreografia que levou quase até ao fim da lição.
Inflectiu, encolhendo os ombros fazendo sobressair os peitos que se juntaram, desenhando, com o vibrador, círculos à volta dos mamilos que se iam enrijando à medida que a pele ia ficando toda arrepiada. Fazia isto lentamente, assumindo poses que se metamorfoseavam de umas para as outras numa dança contínua e sensual. Escondia e mostrava o sexo. Circulava com o corpo pela minha imaginação sabendo muito bem tirar partido do valor dos momentos, da simulação e dos encantos transitórios e flutuantes, ocultando-se habilmente com a toalha semi escondendo assim tudo o que pretendia mostrar.
Punha-se de perfil e de costas, de pernas trocadas, sempre em movimentos de neblina, translúcidos até ao ponto onde a visão se perde na densidade da realidade mergulhada nos vales que adivinhamos, e onde gotas de orvalho se nos formam nos lábios e nos trazem gostos de desejos e lembranças escondidas nos nossos sonhos íntimos mais secretos.
Enroscou a boca num ombro e, com a cabeça voltada para o lado, mordeu-se enquanto os seus olhos iam adensando o nevoeiro que dentro de mim se espalhava em farrapilhos levados por ventos cada vez mais intensos. Abrindo e fechando portas misteriosas em meias sombras feitas de emoções em rotação permanente, vindas das profundezas dos tempos quando o Homem das cavernas descobriu na Lua o poema de ver Mulher na sua companheira...
Aproximou-se.
Rodou depois o corpo e a minha fantasia, e com as mãos cruzadas à frente descobriu brevemente a entrada do seu Paraíso. Aromas de países irreais e distantes aprisionaram-me todo o corpo e tentei deitar-lhe a mão.
Afastou-me imperiosa!
Ela era a Mestra. Eu, um mero aprendiz.
Os olhos dela deitavam o lume do desejo primitivo misturado com a vontade de exercer a soberania sem concessões.
Agora estava junto a mim, de pé, corpo projectado contra o tecto, de mamilos hirtos a coroar uns peitos firmes por trás dos quais espreitavam dois olhos dominadores que me engoliam. O aparelho descia pelas ancas direito aos meus ombros onde ela se encostava com o sexo a poucos centímetros de todo o meu querer.
Passeou o aparelho pelo meu tronco detendo-se nos mamilos, desceu para o umbigo e para a zona genital ao mesmo tempo que toda ela se ia derretendo mãos e boca em mim. Estava completamente arrepiado!
Sem um ruído deslizámos um sobre o outro, corpos entregues na fusão total dos sentidos. Línguas a devorar o desejo nas bocas que se asfixiavam de tanto querer.
Mergulhámos mais uma vez no reino dos Deuses de corpos abandonados à Eternidade.
Mestra e aluno no êxtase de uma eterna primeira lição que nunca mais parei de aprender...

Charlie

28 de outubro de 2005

A lição - parte III - por Charlie

Entre espumas que escorriam em rios pelos nossos corpos, conseguimos finalmente respirar.
Ofegantes e de músculos em progressivo relaxe. A pressão do nosso abraço entrando no remanso do porto de abrigo, fim desejado de toda a viagem que desafia a intempérie em mar alto. Deixamos as cabeças descansar, encostadas aos cais dos nossos ombros por entre as pequenas ondas em desvanecimento que a água do duche desenhava em caprichos sem nexo.
Não sei quanto tempo estivemos assim. Sabia-me bem o conforto e o sentir daquele corpo que parecia conhecer o meu desde sempre. A cabina cheia de vapor, a água escorrendo-nos pelos corpos de sexos entregues e o tempo parado.
Levantou a cabeça. Tinha ainda os olhos fechados. Abriu-os lentamente e apenas lhe vi o branco dos olhos. Senti-lhe os músculos a apertar. Aquela mulher era um vulcão. Estava pronta para outra. Agarrou-me, beijou-me novamente e senti o corpo a responder ao estímulo que a Mestra impunha.
Subitamente parou. Abriu a porta circular, e saiu fechando depois as torneiras.
- Toma - disse e atirou-me uma toalha - Seca-te e deita-te aqui.
Fez uma expressão que me chegou a assustar. Vi-lhe fogo nos olhos e senti-lhe na voz de comando o gosto a sangue de uma predadora.
- Agora é que vai começar a lição. Já alguma vez experimentaste orgasmos múltiplos?
Não lhe respondi. Afinal estava ali para aprender. Fiquei a olhar para ela em expectativa.
Ela aproximou-se do meu corpo já deitado na marquesa onde ela havia posto um cobertor. Lentamente começou a passar as mãos por mim. Levantou-me uma perna e pegou-me num pé. Sem desviar o olhar dos meus olhos, passou a língua pela sola, o que me fez cócegas e arrepios. Mexi-me com o riso e o desconforto.
- Ai o menino ainda tem cócegas... - riu-se ela. E continuou com mais sapiência, subindo devagar, com percursos que eu nunca antes sentira, pelas pernas e voltando aos pés. Repetiu várias vezes.
Avançou com dois dedos andando na minha perna até chegar quase aos testículos, onde parou a breves milímetros, passando os dedos muito ao de leve por eles.
Sabia muito bem o que fazer para deixar um homem completamente louco.
Depois, juntou os dois joelhos e fê-los subir, colocando depois a cabeça entre as minha coxas. Aproximou a boca do objectivo. Pôs a língua de fora e avançou. Eu olhava para ela cada vez mais excitado. Estava já no ponto. Mas ela, com toda a sapiência, ia doseando os estímulos, mantendo-me onde ela queria.
Nisto, ela afastou-se. Fiquei surpreendido. Mordi os meus lábios enquanto via o seu corpo maravilhoso a andar de costas para mim. Dirigiu-se ao armário.
Abriu a porta e, após remexer um pouco, voltou-se com um objecto na mão.
Aproximou-se de mim e a rir disse:
- Isto não é só para as mulheres... - enquanto exibia alegremente um vibrador que passava pelos mamilos, descendo pelo umbigo e esperando o meu olhar antes de prosseguir...

(continua)

Charlie

25 de outubro de 2005

A lição - parte II - por Charlie

Ela era uma verdadeira mestra dos sentidos.
Depois de me ter desabotoado a camisa mandou-me deitar e, peça a peça, descalçou-me os sapatos, despiu-me as calças e as meias, deixando-me só com a fina peça de tecido interior.
Ficou a olhar para o meu corpo de vinte e poucos anos. Toda ela em deleite de um poema espontâneo temperado com a experiência do saber.
Deu-me a mão e levantou-me novamente.
Não desviou o olhar do meu. Encostou-se ao lado de mim, o púbis junto à minha anca.
Pôs-me uma mão no ombro e devagar, com a palma da outra mão encostada ao meu estômago, foi descendo, vencendo muito devagar a ténue resistência do elástico. A perna esquerda ligeiramente subida roçando levemente a parte de trás das minhas pernas. Os lábios quase a morder os meus, mas mantendo-se ali mesmo a um dedo de alcance, fazendo-me aumentar do desejo e ferver todo o sangue dentro de mim. Parou, pegando-me nos testículos em concha, deixando escapar o membro por entre o polegar e o indicador. Muito ao leve massajou-me, apertando os dois dedos em anel de forma a aumentar a erecção. Sentia todo um tremor a atravessar o corpo.
Na minha mente todo um exército avançava de espada em punho, cavaleiros em poesia prontos a derrubar triunfalmente as portas do paraíso entrando de trombetas no mundo dos deuses. O cheiro de mulher a derrubar todas as barreiras. As mãos a percorrer-me o corpo de músculos todos retesados em antevisão do gozo supremo.
Subitamente parou e, encostando-se a mim, levou-me para o duche, uma cabina de tamanho pequeno.
Entrei e abri as torneiras sentindo a maravilha do contacto da água com a pele num corpo que estava sequioso e ardendo em desejo. O elemento líquido corria e juntava-se em cascata na convergência das pernas deslizando pelo beiral do meu corpo, metáfora duma ejaculação constante e fertilizadora em simbiose e entrosamento com a Mãe água que caía fecundada de mim.
Senti um alívio da pressão e respirei por entre as nuvens de vapor.
Nisto, ela entrou também e com alguma dificuldade fechou a porta circular deslizante.
Corpo divino de mulher encostado ao meu, escorregando pelos rios que me enchiam o corpo e a mente.
Voltei à pressão máxima, agora com ainda mais ilusão e querer.
Pôs-me as mãos nas ancas e com uma sapiência absoluta fez-me deslizar para dentro dela. Ainda hoje não sei como conseguimos fazer aquilo num espaço tão exíguo. Já não era um exército que invadia o paraíso. Era um mar de línguas, de corpos em convulsão. Perdidos numa tempestade de emoções que invadiam toda a cabina para onde o Céu havia mergulhado.
A água a bater-nos no rosto e escorrendo pelos corpos que os braços escorregadios mal conseguiam abraçar.
Encostámo-nos firmemente um ao outro, entregues à loucura do momento que vale para todo o sempre, numa explosão breve da Eternidade...

(continua)

Charlie

23 de outubro de 2005

4º Encontra-a-Funda

Já seremos 29 no karalhoke com a Tuna Meliches.

E tu, vais a Beja nos dias 26 e 27 de Novembro?

A lição - por Charlie

- Venho cá para o serviço completo! - Disparei de chofre depois de ter entrado e dado as boas tardes.
O som ficou a soar-me nos ouvidos como se as palavras não tivessem saído da minha boca.
Durante uma breve dentada do tempo o pêndulo do relógio saltou uma fracção de segundo, deixando-me para trás, espectador de mim mesmo, ouvindo a minha voz e apercebendo-me do valor da projecção do meu corpo no espaço.
Ela ficou a olhar para mim, esboçou um breve sorriso e continuou a arrumar as coisas em cima da bancada.
- Sente-se nesta cadeira... se fizer favor... - Respondeu-me após uma pausa, enquanto rodava na minha direcção e apontava com uma escova de cabelo, de olhar perdido na luz que entrava da rua e onde se desvanecera num instante breve o reflexo da última cliente da tarde.
Dei dois passos para o lado olhando para o espelho que alinhava agora a minha imagem com a dela, deixando-nos ligeiramente sobrepostos.
- Não é aqui que pretendo o serviço... É lá dentro.
De repente parou. Fez-se silêncio. Colocou-se numa postura de costas direitas e altivamente olhou-me nos olhos.
- Repete lá isso, rapaz?!
Engoli em seco, e repeti com a voz seca:
– Lá dentro... Quero que me ensine tudo...
Olhei bem para ela, num tom de desafio sem desviar o olhar.
Era uma mulher já bem entrada nos quarenta. De físico seco, linhas do rosto firmes e de uma beleza quase exótica. Olhos muito azuis a destacarem numa pele ligeiramente bronzeada que se fundia à altura dos ombros nas nuances claro-escuro de uns cabelos louros muito soltos e sonhadores.
Analisava-me com um olhar meio perdido. Dentro dela muita coisa estava a passar-se. Pousou a escova e dirigiu-se a mim. Olhou-me bem nos olhos, que não se desviaram. Depois, sem dizer-me nada, foi até à porta e fechou-a.
- Quem te falou em mim? - Voltou-se ela.
- Ninguém! - Menti-lhe eu. – Ando a observá-la há umas semanas...
Não me deixou dizer mais nada. Pegou-me na mão e empurrou a porta que ligava para o interior do salão de cabeleireira. Apertou-me as mãos a querer sentir-me a alma na força com eu que agarrava no aperto dela. Olhou-me bem nos olhos e aproximou o seu corpo ao meu, fazendo-me sentir um universo de cheiros e aromas de mulher misturadas com lacas, shampoos e perfumes.
- Andas a observar-me?! Mentes mal... Queres um tratamento completo, não
é? – E sem mais nada dizer tapou-me a boca com os lábios, mordendo-me levemente e massajando a língua no céu da minha boca, por entre os assaltos da minha aos alvos correspondentes dela.
- Humm. – Disse – Beijas com furor! Gosto disso... Vamos primeiro tomar um duche. Só alinho com homens muito bem lavados e cheirosos.
Nem me deixou dizer mais nada. Começou por desabotoar-me a camisa, botão a botão, muito lentamente, como tudo o que se aprende na vida e que permanece vivo para sempre.
Descobri com ela, para o resto do meu existir, a espiral de ser um aprendiz eternamente navegando no Universo infinito da primeira lição, entre águas e espumas num navio em permanente naufrágio num corpo de mulher...

(continua)

Charlie

21 de outubro de 2005

Causas pelas quais vale a pena lutar

Declaração Universal de Direitos Sexuais
1) liberdade sexual - possibilidade de cada ser humano expressar o seu potencial sexual, incluindo-se todas as formas de amar sem discriminação, independentemente do sexo, género, orientação sexual, idade, raça, classe social, religião, deficiências mentais ou físicas e excluindo-se todas as formas de coerção, exploração e abuso;
2) autonomia sexual, integridade sexual e segurança do corpo - inclui o controlo e o prazer do corpo livres de tortura, mutilação e violência de qualquer tipo;
3) privacidade sexual - direito às decisões individuais e aos comportamentos sobre intimidade desde que não interfiram nos direitos sexuais dos outros;
4) prazer sexual - inclui auto-erotismo, enquanto fonte de bem-estar físico, psicológico, intelectual e espiritual;
5) expressão sexual - direito de expressar a sexualidade através de formas de comunicação e expressão emocional;
6) livre associação sexual - remete para a possibilidade de casamento ou não, divórcio e estabelecimento de outros tipos de associações sexuais responsáveis;
7) escolhas reprodutivas livres e responsáveis - remete para a decisão de ter ou não ter filhos, o número e tempo entre cada um e o acesso total aos métodos contraceptivos;
8) informação baseada no conhecimento científico, com base em princípios éticos e disseminado a todos os níveis sociais;
9) educação sexual compreensiva;
10) saúde sexual.

Versão aprovada no XV Congresso Mundial de Sexologia - Hong Kong, Agosto de 2000
Fonte: livro
«A Lei do Desejo» de Ana Cristina Santos, Edições Afrontamento, 2005

Estamos tão longe!...

Don Juan - por Anukis

Juan era um homem com carisma. Apesar de não ter uma beleza chamativa de cair para o lado, tinha bastante charme. Era inteligente, tinha sentido de humor e podia sustentar uma conversa sobre qualquer tema. Tinha uma voz grave quase radiofónica que embalava quando se tornava íntima. Estava habituado a ter tudo o que queria, principalmente com as mulheres. Fazia questão em seduzir o máximo possível, não por uma questão numérica, mas pelo constante desafio. Vivia mal com hábitos e rotinas. Gostava de viver em locais diferentes, de conhecer sempre pessoas novas. Se acreditasse em reencarnação, teria sido nómada numa vida anterior.

Cátia era uma mulher doce de quem toda a gente gostava. Não era vistosa, nem sequer era uma deusa sexual. Tinha uma sensualidade quase inocente. Tinha um corpo bonito curvilíneo que escondia por baixo de roupas sem formas. Vivia ainda num mundo infantil, apreciava os momentos e o afecto que as pessoas lhe queriam dar. Sorria bastante e divertia-se com quase tudo. Exigia o melhor de si mesmo que oferecia aos outros como presente, mas pretendia nada em troca. Se acreditasse em reencarnação, teria sido a fada Sininho.

Juan foi-se aproximando de Cátia aos bocadinhos. Todos os dias metia conversa. Ela respondia sempre educadamente e com simpatia, mas não mais que aos outros. Na verdade, não entendia o que é que o sedutor nato via nela. Ele podia ter mulheres bem mais bonitas e sofisticadas, bem mais elegantes e badaladas. Que tinha ela de especial?

Juan estava cansado de sair com capas de revistas. Estava cansado de mentiras, de lhes dizer o quanto elas eram especiais, quando na verdade eram todas futilmente parecidas. Estava farto de falar sobre modas, festas, locais e pessoas vips. O que o atraía na Cátia, era aquele sabor da infância que sorvia sempre que falava com ela. Sentia-se de novo menino. Apetecia-lhe molhar-se todo a saltar por cima das poças de água, de lambuzar-se todo a comer um gelado enorme e de falar e rir horas a fio sobre tudo e sobre nada sem ter que estar sempre a manter a pose de sedutor. E assim foram-se passando os dias, numa aproximação crescente.

Um dia, finalmente, Cátia cedeu ao desejo crescente que Juan despertava nela. Desde que ele lhe dissera que dormia completamente nu, que não parara de fantasiar. Tinha-se esquecido que era corpo e ele fazia-a sentir-se mulher. Encontraram-se num quarto de hotel. Nervosismo de ambas as partes, flagrante na Cátia e invisível em Juan. A química entre eles era quase perfeita. Não fora o quase teriam tido talvez das noites de sexo mais escaldantes das suas vidas. Mas o quase estava lá. Um quase recheado de reservas da Cátia, porque uma mulher até pode ceder ao desejo mas não quer dizer que se entregue completamente a um homem. Um quase de sedutor latente no Juan, porque o homem esqueceu-se de ser menino e voltou a colocar a máscara de sempre.

Separaram-se já passava muito a hora do almoço. Tinham tomado juntos o pequeno almoço frugal do hotel, entre olhares fugidios e banalidades. Foram cada um para seu lado. Na boca, um sabor amargo, dos beijos que sabiam que nunca mais voltariam a trocar...

Anukis

19 de outubro de 2005

4º Encontra-a-Funda

Notícia de última hora

A Mad informa:
O restaurante já está reservado e o vinho é garantidamente alentejano.

E tu, já te inscreveste? Já somos 28!

16 de outubro de 2005


Já somos 24!
(e só agora começou a contagem)

Rotinas... - por Charlie

Entrou no autocarro e seguiu para o sítio habitual onde ela estava.
Todos os dias repetia os mesmos gestos que já se haviam tornado rotina.
Vestido com o fato de macaco, de cor azul, sujo de manchas de óleo já secas e indefinidas.
Por onde passava deixava um leve aroma a gasóleo misturado com os cheiros do corpo.
Mas chegou-se a ela como fazia todos os dias.
De pé e atrás, com os cabelos dela quase enfiados no nariz, aspirando o gostoso sonho que há no cabelo de uma mulher.
Segurou bem na pega superior e encostou o sexo a ela.
Devagar, sentindo como ela consentia.
Encostou mais e reparou como mais uma vez ela se entregava toda no desejo que a tomava.
Esfregou-se por ela e fez descer a mão para a anca pressionando levemente.
Deu-se conta como o seu respirar tinha aumentado de ritmo, e como ela mordia o lábio.
Encostou-se mais e fez descer a mão, que tremia ao ritmo das pedras da rua debaixo das rodas. A cada travagem e aceleração do veículo os corpos respondiam com uma coreografia em uníssono.
O autocarro parou. Saíram os dois sem dizer nada um ao outro.
Ela nem olhou para trás.
Ele encetou o caminho de regresso a pé.
Dois quarteirões depois entrou na garagem de um prédio.
O fato-macaco bem enquadrado no ambiente.
Olhou bem para todos os lados e foi direito ao elevador.
Tirou um cartão de acesso restrito e entrou.
Parou no último andar.
Despiu-se, tapou a roupa com um grande plástico e pendurou-a num armário.
Tomou um duche rápido e vestiu-se.
Penteou o cabelo curto com critério e ajeitou um pouco melhor a vestimenta.
Pôs um pouco de perfume e sorriu para o espelho.
Regressou ao armário onde tinha o fato-macaco.
Levantou o plástico e remexeu no bolso das calças.
Guardou o dildo na mala e foi novamente para o quarto onde tinha os sapatos de salto alto para a noite.

Charlie

15 de outubro de 2005

Em Novembro este blog completa dois ânus.
O 4º Encontra-a-Funda será no centro do universo: em Beja, nos dias 26 e 27 de Novembro, com um patrocínio de luxo: a Mad e o Nikonman.
No sábado (26/11) haverá um jantar com animação cultural . Já está confirmada a presença da Tuna Meliches, que nos oferecerá uma sesSão de karalhoke. O OrCa irá mostrar-nos o seu novo livro e oder-nos como só ele sabe... hmmm... e ainda estão em curso negociações para mais eventos. Providenciar-se-á (até custa a escrever) alojamento para quem quiser ficar para Domingo, em que faremos uma (ar)Rota dos Vinhos e um almoço à moda da Coisa da Mana (seja lá o que isso for soa delicioso). Depois de almoço, vai cada um para sua casa.
Para já, marquem nas vossas agendas. Os detalhes (transportes, alojamento, ementas, preços, etc.) vir-se-ão depois.

12 de outubro de 2005

Recordação de uma noite vulgar - por Charlie

Quantas vezes lhe tinha dito que não queria voltar a vê-la? Nem sei.
Uma e outra vez lhe dissera que a nossa relação tinha sido algo apenas pontual. Algo passageiro e sem intenções de continuidade. Ela própria confirmara na noite que passáramos juntos, semanas antes, que não mais queria ver-me.
Agora ali estava mais uma vez!
Tudo começara naquela noite.
Não muito longe do mar.
Um cruzar de olhos naquele bar.
Um aceno de cabeça e um afastar devagar para a porta.
Depois, o regresso ao balcão.
Para o extremo oposto onde ela estava.
Mais cruzar de olhos.
Mais sinais do corpo.
A aproximação.
Encostamo-nos num conversar em tom baixo num jogo de dupla sedução, em lento crescendo.
Aumentando o calor em cada volta que a espiral ganhava, subindo mais e mais alto.
Senti todo o corpo tomado pela vertigem do desejo e saí com ela para a rua.
No fresco da noite, os nossos olhos brilhavam em múltiplos reflexos das luzes com que iluminávamos as nossas almas e que enchiam de claridade o escuro das ruas. Beijámo-nos e senti-lhe todo o corpo em mim. Demos as mãos e mais uma vez os lábios.
Depois fomos para a minha casa. Nem chegámos ao quarto. Em plena sala, em cima do sofá, enrolámo-nos na entrega que os corpos pediam ardentemente.
Naufragando nos nossos mares em tempestade, afundando-nos e vindo ao cimo angustiados abocanhando o ar dos nossos lábios, por entre as línguas que ansiavam respirar. Os corpos em afogamento, delírio e convulsões. Numa imensa vaga, todo o navio submergiu, rompendo-se em espuma contra os rochedos junto à praia, num espectáculo interior que só se vive a dois.
Depois ficámos a olhar um para o outro. Exaustos e satisfeitos.
Minutos de silêncio e descanso.
- Não quero ver-te mais - disse.
- Eu ia dizer-te isso mesmo também - respondi-lhe devagar. E continuei:
- Prometo ser como de costume muito discreto. Podes estar descansada.
- Sabes? Eu sou casada. E isto foi... nem sei como explicar... ele não está cá...
Saiu sem me dizer mais nada, deixando-me a pensar na minha vida de solteiro inveterado, destinado a vagabundear dos braços de umas para as outras, em cima do fio da adrenalina, do sentir o coração delas fraquejar a cada avanço meu e outras vezes apercebendo-me do ângulo inverso. Depois de conquistadas e levadas para a cama, perdiam o interesse e passava para a conquista seguinte.
Nunca lhes prometera mais que o céu nos encontros que com elas tivera. Nem casamentos, nem viver juntos. Nada! Só a aventura pura e dura. Um instante de suprema felicidade em que os nossos corpos se entregavam numa loucura completa. Sexo!
Depois? Depois seria a ressaca, a bonança depois da tempestade. Cada um iria às suas e eu começaria de novo no meu ritual de caça, numa rotina sempre nova.
Agora ali estava ela. Com uma mala na mão e nos olhos a porta aberta para entrar na minha vida para sempre.
- Deixei o meu marido... - disse ela nessa noite.
Olhei para ela a dormir ao lembrar-me da altura em que ela chegara.
Já lá vão trinta anos...

Charlie

9 de outubro de 2005

O voyeur - por Charlie

Conheci-o numa altura em que estava prestes a sair de Lisboa e nessas últimas semanas passara-as a tratar de arrumar coisas.
Naquela noite estava com o meu amigo de andanças nocturnas a beber uma Cerveja no Trindade. Ele já me desafiara para irmos rivalizar as pontas das telhas com os gatos, e contar lérias à Lua, enquanto bebíamos o seu reflexo nos olhares quentes de uns corpos de mulher em desejo. Mas nesse dia apeteceu-me mesmo ir para a cama mais cedo e só.
Ele foi-se embora - iria dar uma volta, dissera - e nessa noite arranjaria algo
para passar a noite envolvido na aventura dos sentidos.
Não duvidei. Aliás ele tinha sido o meu mestre na arte do engate. Toda a linguagem do corpo e toda a sedução ensaiada era com este mestre do fingimento. Por vezes aborrecia-me com ele por estar farto dos clichés. Sempre gostei da aventura cantada de forma genuína. Por isso ele gostava de andar comigo. Eu tinha sempre uma abordagem arriscada. Gostava de sentir a presa a fugir e depois ir buscá-la mais adiante com mais calor, com mais entrega e empenho vividos da minha parte. Ele curtia com gozo a forma como eu trocava o certo pelo incerto mas isso, dizia-lhe eu, é que dá o travo e sabor à aventura e à conquista.
Nessa noite não me estava a apetecer nada e ele saiu deixando-me com o tipo que mal conhecera uma hora antes, mas já dos círculos de amizade do meu retirado parceiro.
Era um vendedor de remédios. Dos tais que passam a vida a fazer peso nos corredores dos hospitais, esperando pelos doutores e apresentando a última maravilha em elixires da eterna juventude e a saúde em comprimidos e quejandos. Conversava pelos cotovelos e era homem sabedor de muitos ambientes nocturnos onde mostrava ter amplos conhecimentos.
Depois da última cerveja e das conversas sobre mulheres despedi-me dele, dizendo que tinha de apanhar o comboio já que o meu amigo tinha levado o carro.
- Eu posso levá-lo. - adiantou-se - Moro próximo de Paço d´Arcos.
Concordei. Afinal ir de carro é muito melhor que esperar pelo comboio. Parou em Caxias.
- Moro aqui, não quer subir?
Achei um pouco bizarro mas seria falta de educação não aceder ao pedido. Subimos e, mal entrámos na sua casa - um primeiro andar - reparei nela. Uma mulher que exalava dos poros tudo o que um homem precisa. O marido foi para a cozinha tratar de umas bebidas depois de ter arrumado a pasta com papéis e deixou-nos sós.
Ela mirou-me de alto a baixo e eu fixei-me no seu olhar. Aproximou-se de mim e sem mais deitou-me a mão à braguilha. Fiquei petrificado pensando que a todo instante poderia aparecer o marido. Ele surgiu de facto, mas já aí ela se afastara.
- Vou só ali ao carro buscar uma garrafa que hoje me ofereceram.
Saiu de imediato e fechou a porta. Sem mais, ela atirou-se a mim. O corpo em fúria e desejos. Eu estava estupefacto, e sem saber bem como, respondi aos avanços. Em dois tempos estávamos nus e envolvidos numa incrível sessão de loucura, sob o espectro de a todo o momento o marido entrar pela porta. Mas, por estranho que pareça, foi precisamente esse sabor do risco que me deu o maior gozo. Toda aquela adrenalina fazia entrar o meu corpo em efervescência. O simples facto de tudo poder acabar em tragédia excitava-me loucamente e ela sabia tirar todo o proveito disso. Explodimos em arcos-íris de gemidos e convulsões.
Nesse mesmo instante entrou ele. Não da porta da rua, mas da porta da cozinha.
Nas calças adivinhava-se, pelo vulto, o estado em que estava.
- Sim senhor. Portou-se à altura! Tome! - E deu-me um copo de whisky com gelo - Com água? - Continuou ele.
Fiquei sem resposta, olhando para os dois. Com o rosto que passara de rubor a pálido. Sentindo o irreal do copo frio nas minhas mãos perante a minha nudez. Ela riu-se e beijou o marido.
- Sabe, jovem, o que o excita é ele ficar a ver-me com estranhos. E eu, quando estou com eles, fico perdida de excitação pelo facto de senti-los no mais absoluto pavor de serem apanhados pelo meu marido. Ele limita-se a dizer que sai mas fica escondido a ver tudo.
- Vamos, querido? - disse, pegando-o pelo braço - Agora, jovem tem de ficar a
ver que só assim ele atinge o pleno orgasmo e eu, pela minha parte, perco-me
por orgasmos múltiplos. Sente-se no sofá, e fique a olhar...

Charlie

7 de outubro de 2005

6 de outubro de 2005

Publicidade Descarada

O Meu Frigorífico
(Façam o favor de enviar a fotografia do vosso
frigorífico para blogotinha@hotmail.com)